Esportes

Rodeio, o pai dos esportes radicais

O espetáculo que pretende atrair 6 milhões de pessoas às arenas no Brasil - mais que o público total do Brasileirão de futebol - aposta na emoção do duelo entre touro e homem. Com prêmios milionários, peões dividem o estrelato com os animais, tr

Por: Revista Veja - Ribeirão Preto - SP

15/04/2013

Em meio à música alta e à vibração do público, o atleta tenta se concentrar. Depois da contagem regressiva, abre-se a porteira e a missão é uma só: se segurar. Sob suas pernas, mais de 800 quilos de fúria, se mexendo, pulando e sacolejando. Cinco segundos, seis, sete, oito no máximo e chão: lá está o peão caído, os auxiliares tentando controlar o touro. Fim do duelo. Como num clássico do futebol, a torcida grita e faz uma grande festa. Termina mais uma exibição de força e coragem de um atleta de rodeio - um esporte que nem sempre está à vista de todos, mas que ainda assim conquista cada vez mais fãs no Brasil. Se para o peão a ação é breve, para o público a emoção dura muito mais: um minuto depois, lá está o próximo candidato a domar o touro. E começa tudo de novo, 40, 50, 60 vezes por noite, por três ou quatro dias seguidos.“Nosso esporte é radical por definição, é o precursor entre as modalidades radicais. E é isso que atrai o público, é por isso que cada vez mais gente acompanha as nossas competições", diz o americano Jim Hayworth, presidente da PBR, a Professional Bull Riders, uma espécie de Fifa da montaria em touro, como o esporte prefere ser chamado (“rodeio”, segundo eles, remete a toda a festa que costuma envolver os eventos, com exposições, leilões de gado e shows de música sertaneja). "Onde mais se pode conseguir tanta adrenalina em dez segundos?”, diz Hayworth. Radical, sim, mas também profissional. A versão nacional do PBR, uma espécie de campeonato brasileiro da modalidade, foi criada em 2007 e neste ano contará com 30 etapas. A expectativa de público total é de nada menos que 6 milhões de espectadores nas arenas - sem contar as transmissões por TV aberta e a cabo e pela internet, via streaming. Em 2011, com 5,6 milhões de pessoas, o público que acompanhou as competições de perto foi o mesmo dos 380 jogos do Campeonato Brasileiro somados. A cada etapa, são criados 14.000 postos de trabalho. Neste fim de semana, em Londrina, na segunda etapa da temporada 2013, serão 80.000 reais em prêmios distribuídos - valor modesto se comparado aos salários dos astros do futebol, mas generoso quando se compara a modalidade a outros esportes menos consagrados - como o MMA, onde os cachês dos lutadores em alguns eventos ficam numa faixa parecida.

“O Brasil, junto com a Austrália, é o pais em que nosso esporte mais cresce no mundo, e estamos trabalhando duro para dar ao fã um espetáculo cada vez melhor”, afirma Hayworth. O "Dana White dos rodeios", que esteve no Brasil na semana passada para participar de reuniões com parceiros e também para participar de ações promocionais, comanda a empresa desde 2011 e admite que se sai melhor como executivo do que como atleta. “Não, eu nunca montei em um touro. Até gostaria, mas sou grande demais, não tenho o tipo físico para isso. Prefiro os cavalos”, contou ele a VEJA.Contusões e capacetes - Cada vez mais um esporte de massa, o rodeio também cria ídolos. Silvano Alves, que vive na pequena Pilar do Sul, no interior de São Paulo, sagrou-se campeão mundial nos últimos dois anos, vencendo a série de torneios disputada nos Estados Unidos e faturando nada menos que 2 milhões de reais a cada temporada - isso apenas como prêmio pelo título. Outro nome forte é Edevaldo Ferreira, atual bicampeão brasileiro, que competirá em Londrina com outros 50 peões pelo prêmio. Ele se recuperou de uma contusão que o deixou fora de ação por um mês. Também participou de algumas etapas de competições realizadas nos Estados Unidos. “Estou muito confiante. A temporada começou agora e ainda há muitas disputas pela frente, tanto aqui no Brasil como no exterior. Tenho feito uma recuperação rápida e estou pronto para recomeçar”, avisa, como se fosse um atleta de qualquer outra modalidade mais popular.É um esporte radical, sim, mas também seguro: hoje os peões só vestem o tradicional chapéu na hora de dar entrevistas e de conversar com o público. Sobre o touro, capacete e colete de proteção são itens obrigatórios. O tratamento concedido aos touros, alvo de muitos protestos de organizações de proteção dos animais, é cada vez mais cuidadoso - eles viajam em caminhões que têm amortecedores no piso e são acompanhados permanentemente por uma equipe de veterinários. “Eles são as nossas verdadeiras estrelas", explica Flávio Junqueira, presidente do PBR Brasil. "Se você pensa em rodeio, em montaria, até hoje o nome mais conhecido é o Bandido, o da novela, lembra? Mais do que qualquer peão. Por isso, é claro que precisamos tratá-los muito bem, como merecem todas as estrelas”, explica ele, citando o touro que contracenava com Murilo Benício na novela América. Bandido morreu em 2009 e foi homenageado com uma estátua em Barretos, a meca da montaria. Como os astros de qualquer esporte, eles valem muito: num leilão recente, um criador venceu um “pacote” de 35 animais por cerca de 1,4 milhão de reais. O mais caro deles custou 127.000 reais.

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