Cultura

O Berrante

O Berrante

Por: Viola Show - Ribeirão Preto - SP

23/05/2014

"Saudade louca de ouvir um som manhoso do berrante preguiçoso nos confins do sertão." (Mágoa de boiadeiro)O Berrante é um instrumento de sopro, usado pelo ponteiro na comitiva, para comunicar-se à distância. Tanto o peão quanto o gado sabem traduzir perfeitamente os códigos embutidos em cada toque ou repique. Para fazer um berrante são necessários três chifres de boi, serrados em três tamanhos diferentes, de modo que colocados formem uma espiral crescente. As emendas são arrematadas por tiras de couro.Um Bom berrante sabe florear, é capaz de tocar músicas e hinos. Um aprendiz bastante interessado pode aprender alguns toques básicos em oito dias. Na comitiva, tem hora certa para tocar, como explica o comissário: " O berrante é tocado na hora de sortá o gado no estradão. E de distância em distância, para avisar de algum perigo. Quando o boi está no pastoreio, não toca. Quando vai sair da aguada, não toca. Quando a boiada dobra perto do ponto de almoço ou pouso, o berranteiro toca para avisar o cozinheiro ou os morador ". Ponteiro exibido, bom demais no floreio, podia causar problema. O povo ia ajuntando perto da boiada, os animais se assustavam, podia acontecer o estouro de boiada. Cidades como Barretos contornadas por estradas boiadeiras, ficavam sujeitas ao estrago que fazia a disparada dos animais, muito veloz e compacta. O gado ia derrubando tudo o que encontrava pela frente. As pessoas que estivessem no caminho, desesperadas, subiam nas árvores e os comerciantes tratavam de fechar as portas. Muitas vezes o estouro chegou até a praça principal, na porta da Igreja Matriz. Só a molecada se divertia com a confusão. Chegavam a jogar sal no fogão de lenha. bem na hora em que a boiada ia passando. O sal no fogo fazia barulho, os meninos torciam para a boiada assustar.Ás vezes, isso nem era preciso. Bastavam latidos de cachorros ou uma porta que batesse mais forte para desencadear a tragédia. Até os anos sessenta, presenciei cenas assim. Conversando com pessoas ligadas ao antigo frigorífico Anglo, soube até de uma história de amor que começou com um estouro de boiada. Um funcionário do frigorífico, recém-chegado da Inglaterra, foi pego de surpresa, a cavalo, perto das reses em disparada. Rodou com seu cavalo e acabou se ferindo tanto que foi preciso levá-lo a um hospital em São Paulo. A firma designou uma secretária, também inglesa, para acompanhá-lo na internação. Começou o namoro, deu casamento, mas apesar da violência do acontecido, eles escolheram ficar por aqui. Nunca mais voltaram a morar na Inglaterra.

Publicidade